No primeiro trimestre deste ano, os hospitais do Serviço Nacional deSaúde gastaram mais 18 milhões de euros em medicamentos do que no mesmo período do ano passado. A despesa aumentou 8,7%, invertendo a tendência de descida dos últimos quatro anos, conquistada em negociações com a indústria farmacêutica.
De janeiro a março, a despesa com medicamentos nos hospitais atingiu os 258 milhões de euros, contra os 240 milhões do ano passado. Este crescimento foi acompanhado por um aumento do consumo de 2,2%, num total de 60,6 milhões de fármacos (por unidade) dispensados, de acordo com a monitorização do consumo de medicamentos em meio hospitalar no primeiro trimestre, realizada pelo Infarmed.
São os medicamentos inovadores na área do cancro e da hepatite C que estão a desequilibrar as contas. Em fevereiro, em entrevista aoJN, o presidente do Infarmed, Eurico Castro Alves, avisava que os governos de todo o Mundo iam, em breve, "enfrentar um inferno" a propósito dos medicamentos inovadores que estão a ser aprovados com excelentes resultados mas com preços incomportáveis. Ontem, o presidente do Infarmed não quis comentar a subida da despesa dos medicamentos nos hospitais.
Segundo o documento, a que o JN teve acesso, os fármacos para tratamento do cancro e da hepatite C( aprovados em fevereiro) foram os que pesaram mais na despesa com medicamentos dos hospitais, representando 61% do total. Os antineoplásicos (incluem os citotóxicos, hormonas e anti-hormonas e imunomoduladores com indicação terapêutica na área oncológica) custaram no primeiro trimestre 55,5 milhões de euros, mais 9,3% do que no período homólogo.
O tratamento da hepatite C custou, entre janeiro e março, 8,3 milhões de euros mais, 303% do que no ano passado, quando o sofosbuvir e ledipasvir estavam por aprovar. A despesa com o tratamento do VIH/Sida - 52 milhões de euros - mantém se estável, mas continua a ter um peso muito significativo no total dos gastos. Já o investimento nos medicamentos órfãos (para doenças raras) aumentou 32% face ao período homólogo, totalizando 21 milhões de euros.
Praticamente todos os hospitais viram as despesas com medicamentos subir no primeiro trimestre. Nos centros hospitalares de S. João e do Porto, estes gastos dispararam 27% e 19%, respetivamente. Já o IPO do Porto baixou 3,1% refere à monitorização do Infarmed.
No mercado ambulatório, leia-se nas farmácias, a despesa com medicamentos manteve a tendência de descida. Os utentes compraram mais fármacos, mas gastaram menos dinheiro no primeiro trimestredo ano. Foram vendidas 39 milhões de embalagens (mais 1,6%) e o encargo médio do utente caiu 1,3% para os 4,47 euros, refere outra monitorização do Infarmed.