Não são só as margens das farmacêuticas que encarecem os medicamentos. Existem aos custos de I&D, o período cada vez mais curto de protecção das patentes, a mudança de paradigma dos tratamentos e o sistema de referenciação de preços.
O que é torna os medicamentos inovadores tão caros? Normalmente refere-se como principal factor as margens da indústria farmacêutica face aos seus custos de produção. Mas como refere um estudo do Boston Consulting Group, este "é apenas um dos elementos determinantes nos preços dos medicamentos e é mais determinante em fármacos menos inovadores como os genéricos". No caso dos fármacos inovadores, há mais razões que explicarn o preço diz o BCG.
O primeiro é o elevado custo da investigação e desenvolvimento (I&D). Nos últimos 60 anos, a produtividade da investigação farmacêutica caiu para metade a cada 10 anos apesar dos esforços para reduzir os custos e aumentar a produtividade de I&D. Estima-se em 1,96 mil milhões de dólares o custo médio actual de uma molécula introduzida no mercado, quando há 15 anos esse custo era de mil milhões de dólares.
Em segundo lugar o período de protecção de patentes é de cerca de 20 anos desde o momento da identificação da molécula. A prática clínica é cautelosa na adopção de novos fármacos. Os preços de novos medicamentos reflectem o período real que as farmacêuticas dispõem para recuperar o investimento em I&D.
O terceiro factor está no facto de os universos de doentes serem cada vez mais reduzidos."Nas últimas duas décadas, a inovação tem evoluído e focado em patologias com incidências inferiores e em tratamentos mais personalizados e com esquemas terapêuticos mais cómodos, que permitem melhores resultados". Tem benefícios para os doentes, mas traduz-se num volume de unidades vendidas e o custo de tratamento por doente reflecte este volume mais reduzido.
O preço no retalho está relacionado com o sistema internacional de preços de referência, metodologia que se aplica em 24 países da União Europeia. Em Portugal, o preço no retalho é formado como a média do preço praticado para aquele fármaco nos países europeus que servem de referência para o sistema português que são a Espanha, a França e a Eslovénia.
Este sistema de preços tem vantagens mas também efeito perversos. Por exemplo, Portugal é referência para a Alemanha, Espanha e Itália, países de elevada dimensão e com riqueza superior que somados representam um mercado 60 vezes superior ao nacional. O que coloca um problema pois "o sistema de referencia de preços determina que se uma empresa farmacêutica aceitar reduzir os preços num pais, tem estar disponível a aceitar a mesma redução em todos os países para quais esse país é referência".
Vítor Virgínia, director-geral da MSD Portugal, lembra que, nas discussões entre as autoridades de saúde e farmacêuticas, "são sempre consideradas questões como o custo de desenvolvimento dos medicamentos e a escala potencial de utilização mas também as condições de cada sistema de saúde". Por isso, diz, que "não é segredo para ninguém que por exemplo,os medicamentos são mais caros nos EUA do que muitos países europeus e, nomeadamente, em Portugal".
[Fonte: Jornal de Negócios]