Hoje em dia existe um número elevado de casais que procuram ajuda para a realização de tratamentos de fertilidade devido à idade "avançada" da mulher .
As razões que levam à mulher de hoje a adiar a maternidade são várias: ausência de parceiro, procura de maior estabilidade financeira, concretização dos estudos, entre outras. Enquanto na década de 70 a idade média das mulheres aquando o nascimento do primeiro filho se situava nos 24,4 anos, no ano de 2014 a idade média da mulher passou para os 30 anos (Fontes/Entidades: INE, PORDATA, dados atualizados em: 2015-04-30).
Mas este adiar traz consequências menos boas para o projeto da maternidade. Uma delas é a infertilidade, outra é que as mulheres ao terem o primeiro filho mais tarde muitas vezes acabam por não ter tantos filhos como aqueles que desejariam ter por falta de tempo.
Mas por que razão a capacidade reprodutiva da mulher diminui a partir de certa idade?
Redução quantidade de ovócitos
As mulheres nascem com uma reserva de ovócitos limitada que se vai gastando ao longo da sua vida. Um feto feminino às 18-20 semanas de gestação tem aproximadamente 6 a 7 milhões de células germinais (que vão originar os ovócitos) nos seus ovários. No momento do nascimento, esse número decresce para os 1-2 milhões. No início da puberdade, o número de ovócitos reduz-se aos 400.000 - 500.000 dos quais somente 400 a 500 chegam a ovular. No ciclo menstrual, são utilizados vários folículos mas apenas um deles vai ovular. Os restantes folículos (que contém os ovócitos) vão degenerar e desaparecer. Nos anos que antecedem a menopausa, o gasto de folículos é ainda maior.
Redução da qualidade dos ovócitos
Por outro lado, com o avanço da idade, existe um aumento do número de alterações cromossómicas nos ovócitos que conduzem a alterações no cariótipo dos embriões (alterações cromossómicas). As alterações mais frequentes associadas à idade materna avançada (depois dos 38 anos) são trissomia dos cromossomas 13, 14, 16, 18 e 21 e uma monossomia do cromossoma X. Como consequência as mulheres destas idades acabam por ter mais abortos do que as mais jovens.
Mas será que o útero também envelhece tão rapidamente quanto os ovários?
Muitos dos estudos publicados na literatura realizados com mulheres recetoras de ovócitos puderam verificar que a recetividade do útero era constante até aos 45 anos mas que a partir dos 45 até aos 50, a capacidade de gravidez das mulheres caía de forma abrupta. A razão para a diminuição da taxa de gravidez era justificada pela redução da recetividade do endométrio a partir dessa idade.
Em resumo, podemos dizer que a quantidade e a qualidade dos ovócitos diminuem a partir dos 35 anos. No entanto, a recetividade do útero só parece estar comprometida a partir dos 45 anos.
Sofia Nunes, embriologista, diretora do Laboratório FIV
[Fonte: Vital Health]