Gripe e frio fizeram mais de 5500 mortes no início deste ano
7 de outubro de 2015

 A última época de gripe sazonal foi a mais mortal desde 1998/1999, ano em que se registou o maior pico de mortalidade associado ao frio e infecções respiratórias habituais no Inverno. O relatório do Programa Nacional de Vigilância da Gripe 2014/2015, a que o i teve acesso, revela que os peritos estimam um total de 5591 mortes acima do esperado.


O excesso de mortes verificou-se essencialmente nos primeiros dois meses do ano, em particular na terceira semana de Janeiro. Em 1998/1999, o ano com pior registo, houve um excesso de 8514 mortes. Até aqui, a segunda época com pior registo desde 98/99 era 2011/2012, com 4200 mortes acima do que é normal.

O relatório vai ser apresentado hoje na 4.a Reunião da Vigilância Epidemiológica da Gripe do Instituto Ricardo Jorge, um encontro que junta em Lisboa peritos e médicos que todos os anos colaboram na monitorização da gripe nos centros de saúde, serviços de urgência e cuidados intensivos nos hospitais. 

Baltazar Nunes, investigador do Instituto Ricardo Jorge, explicou ao i que existem várias razões para o excesso de mortalidade: períodos de frio acentuado e uma das estirpes em circulação não coincidir exactamente com a que foi usada na preparação da vacina disponibilizada, mas também o facto de muitas pessoas mais vulneráveis não se vacinarem, embora a vacina diminua o risco de complicações. 

Por tudo isto, o responsável considera que muitas destas mortes e complicações seriam evitáveis quer com uma maior adesão à vacina por parte dos grupos de risco, quer com maiores precauções no que respeita ao impacto do frio. 

Em relação à eficácia da vacina, o especialista salvaguarda que existe sempre alguma incerteza, mas é a melhor protecção disponível. “As vacinas são produzidas a nível mundial todos os anos, o que requer alguns meses. Assim, a Organização Mundial da Saúde define as estirpes a serem usadas em Fevereiro, podendo haver mutações até ao início da época gripal.” O especialista assinala ainda assim que, no ano passado, a estirpe do vírus da gripe que não batia certo com a vacina não foi a dominante em Portugal. Uma análise mais refinada da equipa do Instituto Ricardo Jorge permitiu estimar que 76% das mortes podem ser ligadas à gripe e 17% à vaga de frio, aquilo que o especialista entende que devem ser as principais frentes de combate. O sistema não permite monitorizar se a resposta dos serviços de saúde tem algum efeito nestas mortes, ressalvando Baltazar Nunes apenas que o período de gripe sazonal é sempre de grande pressão nos serviços. 

 

Vacinas já estão disponíveis 

Como acontece todos os anos, a campanha nacional de vacinação contra a gripe arrancou no dia 1 de Outubro. A vacina da gripe é gratuita para todas as pessoas com 65 anos ou mais e é também recomendada a doentes crónicos, imunodeprimidos, grávidas e profissionais de saúde ou lares. Segundo a análise do Instituto Ricardo Jorge, a maior parte dos doentes internados em cuidados intensivos no ano passado não tinham feito a vacina contra a gripe sazonal. Os peritos alertam mesmo que, apesar de mais de 80% terem doença crónica, apenas 15% tinham feito a vacina.

 

[Fonte: Jornal I]

 

Fotografia: José Pedro Tomaz - retirada de www.ionline.pt