Dispositivo que ajuda a controlar a doença e reduz as injeções abrange todas as crianças até aos cinco anos, mas ainda há centenas de jovens em lista de espera para o colocar.
Sem complexos, sem limitações no dia-a-dia. Cátia Mateus tem 6 anos e há três que leva sempre consigo uma bomba de insulina, um pequeno dispositivo que permite controlar os níveis de açúcar no sangue, evitar sete injeções por dia e, até, não resistir ao pecado da gula de vez em quando. Um ganho de autonomia e qualidade de vida que é sentido pela generalidade dos 1200 portugueses que a colocaram. O programa existe há seis anos, mas apesar da redução de preço e de abranger 150 pessoas por ano, as listas de espera para colocação de bombas de insulina estão a aumentar. Segundo a Direção-Geral da Saúde, há mais de mil inscritos, alguns desde o início do programa. Só na Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) há mais de 200 jovens até aos 19 anos em espera.
Controlo da doença é superior
As vantagens da colocação são inúmeras. "A qualidade de vida é muito superior, já que se reduz o número de injeções. Numa criança era mais difícil de calcular as doses e aqui essa infusão é contínua", explica João Raposo, da APDP. Depois "há vantagens sociais". É possível fazer uma vida normal desde que se controle e se dê instruções à bomba, consoante o exercício que se faz ou o que se come. Mais importante é a doença estar mais bem controlada, já que é administrada a insulina necessária.
As crianças até aos cinco anos têm resposta quase imediata caso a família queira colocar uma bomba de insulina. José Manuel Boavida, o diretor do Programa Nacional para a Diabetes, calcula que "mais de mil pessoas estejam em lista de espera", tendo em conta as que vão saindo ou desistindo. "Temos um programa para colocar cerca de 150 bombas por ano, 30 nas crianças, 20 em mulheres que estejam a planear engravidar e cerca de cem para o contingente geral, mas com prioridade para os adultos jovens." No entanto, admite que "não temos conseguido colocar a todos depois destas idades, mesmo entre os seis e os 10. Preocupa-nos a colocação em idades em que há uma maior esperança de vida e não lhes conseguirmos oferecer o melhor da tecnologia".
Até aos dez anos já há 250 crianças que as colocaram, 72 das quais com menos de cinco anos. É precisamente nestas idades que surgem hoje a maior parte dos casos de diabetes tipo 1, em que uma falha no funcionamento do pâncreas obriga às injeções regulares de insulina para manter os níveis normais. Até aos 14 anos foram diagnosticadas 277 crianças em 2013, a que se juntam mais 34 até aos 19 anos.
Nestas faixas etárias já se cumpre o recomendado, que é a colocação de bombas de 10% a 20%. Neste momento, está-se nos 15%. Mas refira-se que 50% foram colocadas abaixo dos 10 anos. "Nós garantimos até aos cinco, mas há um gap até aos 19, em que colocamos poucos. Temos tentado negociar."
Acesso gratuito para a vida
O programa tem uma verba de 1,2 milhões de euros. Só as bombas custam 1600 euros, mas o dispêndio maior, que acumula, já que é para toda a vida, é dos consumíveis. "Já representam 90% dos gastos. E a própria bomba tem de ir sendo substituída", esclarece Boavida. Os consumíveis, também cobertos, rondam 100 a 150 euros mensais. Apesar de ter havido reforço de meio milhão este ano, só são abrangidos os 150 e a lista aumenta.
João Filipe Raposo diz que só na APDP "há 600 pessoas em lista de espera, dos quais 200 são crianças e jovens até aos 19 anos".
[Fonte - texto e imagem: DN]