Farmácia aberta sem remédios nem dinheiro
30 de outubro de 2015

As portas estão abertas e os pro dutos cosméticos, ainda nas vitrinas, escondem a realidade do que está a acontecer na Farmácia Nova, na freguesia da Branca, Albergaria-a-Velha. Mas no compartimento atrás do balcão, a situação é clara: as gavetas, outrora recheadas de medicamentos, estão praticamente vazias. Tal como o espaço de arrumações, onde há sete meses ainda havia remédios em stock, até ao teto. Em causa está uma guerra de família devido aos bens deixados por um casal aos seus seis filhos, geridos, atualmente, pelo mais velho cabeça de casal da herança. As partilhas estão longe de estar feitas e Ilda Sousa, farmacêutica que gere a farmácia da mãe há 33 anos, diz-se agora impedida de o fazer, por, em fevereiro, o irmão ter alterado a senha fiscal e por ter ficado, “indevidamente”, com o controlo da conta do receituário.

“O Infarmed já está a par da situação há muito tempo e ainda não resolveu nada. Estamos em situação totalmente irregular. Neste momento, nem diretora clinica temos e os funcionários demitiram-se porque não havia dinheiro para lhes pagar os ordenados”, explicou ao JN Ilda Sousa, adiantando que só a boa vontade de uma das suas filhas, também farmacêutica de formação, permite manter o negócio de portas abertas para “não perder o alvará”.

Segundo a farmacêutica, a única dos irmãos com essa profissão, o irmão mais velho, em fevereiro deste ano, “alterou a senha das Finanças sem dizer nada”, o que fez com que Ilda deixasse de conseguir cumprir as suas obrigações fiscais. “E foi junto da Finanfarma/Asso ciação Nacional das Farmácias (ANF), apresentou se como cabeça de casal e passou a controlar o dinheiro do receituário, que todos os meses ia para a conta da farmácia. A partir daí, ficámos também sem dinheiro para pagar aos fornecedores”, sublinha Ilda Sousa.

É com mágoa que a farmacêutica recorda a garantia que os seus pais sempre lhe deram: “a farmácia é tua”. Apesar de nunca terem feito partilhas antes de morrer, deixando uma herança aos seis filhos avaliada em alguns milhões de euros, entre a qual está o Colégio de Albergaria, uma empresa de viação, terrenos, prédios entre outros.

Além disso, Ilda Sousa reporta outra irregularidade: “o cabeça de casal é médico prescritor e, por isso, de acordo com a lei, não pode estar envolvido na gestão de uma farmácia”. O JN tentou, sem êxito, chegar à fala com o cabeça de casal.

Atualmente, a farmacêutica pede ao Infarmed, entidade reguladora, que intervenha e “dê um prazo muito rígido para a situação ser resolvida”. E quer ainda que a ANF “volte a meter o valor do receituário da conta da farmácia” para continuar a gerir o negócio.

 

[Fonte: JN]